segunda-feira, 23 de setembro de 2013

No limite da Língua; um novo caminho.

O vício de mercado “gospel/secular” continua torturando pessoas, mas por que elas ainda não se libertaram disso?


Quem toma partido, fica partido. Não canso de repetir. Como um juiz de direito que primeiro condena politicamente para depois avaliar o processo, nossos olhos e ouvidos estão condicionados ao partido ideológico que escolhemos nos filiar; vamos ver e ouvir o mundo de acordo com os nossos preconceitos. Quase sempre não temos tempo nem motivos para adiar juízos e ver as coisas como elas são.

A religião é boa para criar esteiras confortáveis de juízo. O recalque, o trauma, as neuroses estão aí elegendo valores ambivalentes para apontar o que é bom e o que não presta. A filosofia de cada dia repetindo o senso comum e o blábláblá sem fim. Temos de ter coragem para enfrentar esses limites que nos deram a religião, a psicologia, a filosofia e em última análise; a língua. Porque ninguém sabe reger a palavra, domar adjetivos, peneirar a linguagem. Lembra da Carta de Tiago?

a língua, porém,
ninguém consegue domar.
É um mal incontrolável,
cheio de veneno mortífero.
Com a língua bendizemos ao Senhor e Pai,
e com ela amaldiçoamos os homens,
feitos à semelhança de Deus.
Da mesma boca procedem bênção e maldição.
Meus irmãos, não pode ser assim!
(Tiago 3:8-10)

Qualquer leitor de inteligência razoável percebe que o irmão de Jesus não está falando de anatomia, mas de comunicação, de nomes, de sintaxe e hermenêuticas, de cochichos e discursos. Tiago fala da gramática cotidiana, sobre o absurdo que fazemos com o idioma. Com uma palavra podemos derrubar ou levantar, abençoar ou amaldiçoar os homens,feitos a semelhança de Deus. O que pode essa língua?

Vejam, por exemplo, os críticos musicais do nosso tempo, observem como eles usam a língua. Produzem textos mesquinhos que, quase sempre, não falam de música. Se debatem tentando criar tarjas e rótulos para as obras, como auxiliares de estoque num supermercado, responsáveis por organizar os produtos nas prateleiras. Vejam os críticos literários que não falam mais de literatura, apenas cultuam personalidades. Vejam de novo os juízes que não consideram mais a lei senão a política.

Muitos estão me perguntando o que acho sobre a revelação feita pelo jornalista Ricardo Alexandre sobre aquele episódio com a banda Catedral. Publiquei aqui no Blog o texto polêmico em que Ricardo confessa uma “máxima culpa” na confusão, divulga sua “desconfiança e antipatia” em relação ao gospel, onde também compara, entrelinhas, as novas bandas cristãs brasileiras com o quarteto carioca. A minha opinião sobre o assunto está impressa em cada texto que escrevi aqui, desde 23 de Setembro de 2011! Bem antes disso, também: procurem as entrevistas para o programa Frente, do Henrique Portugal; as aparições nas tvs (Rede Super, TV Horizonte, Rede Minas, Globo); os longos diálogos com a Billboard; aquele primeiro bate papo com o Rafael Porto, na época do Esperar é Caminhar; os devaneios e as invenções de categorias de pensamento amplamente divulgadas aqui. Ninguém prestou atenção que NUNCA trabalhamos com esse dualismo mercadológico gospel/secular? Não faz sentido deixar Ipanema para ir a Ipanema se já estamos em Ipanema! Não faz sentido para nós subjugar nossa arte à categorias de mercado! Estamos dizendo isso insistentemente, mas ninguém quer ouvir! Não entramos nessa discussão porque esses termos já corrompem qualquer conexão com a realidade. Tal diálogo é ficcional, no entanto, uma geração inteira vive achando que ele é real, como tem gente que jura de pés juntos ter visto Papai Noel descendo da lareira no Natal e outros que teimam em contar que seu guarda-roupas tem uma passagem para Nárnia. Infelizmente, tais discursos de ficção quando levados a sério demais, acabam por afetar a vida cotidiana das pessoas, destruindo aspectos tão preciosos do existir humano.

Vou parafrasear Gertrude Stein (1874-1946):


uma música é
uma música
é
uma
música
é
uma música!

A apreciação que deve ser feita não é do rótulo, não interessa qual prateleira ou corredor do mercado, as pessoas reais não visitam o WalMart para serem impedidas de mudar de corredor! As pessoas que conheço e que gostam de música querem a música.

Sabendo disso, eu me esforço para dialogar com as pessoas reais numa linguagem que corresponda a vida real, inteira, não compartimentada. Aliás, a força de uma língua está na capacidade de expressar necessidades de comunicação de um povo – e como necessitamos de integração! Ainda mais, como muitos estão adoecidos com essa gramática violenta que despedaça a realidade. Precisamos de mais coragem para inventar um novo léxico, aposentando velhas expressões, regendo com mais responsabilidade a boa palavra e criando um vocabulário mais amplo e generoso. As pessoas reais agradecem!

Qual minha opinião sobre o ocorrido? Parem de se torturar! Sigam um novo caminho!

Marcos Almeida

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