quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Rookmaaker, Keith Green e a escola Rembrandt


Três afirmações sobre a banda Palavrantiga precisam ser feitas: a) quem nunca ouviu, precisa ouvir; b) quem já ouviu e não gostou, precisa ouvir novamente; c) quem já ouviu e gostou, precisa conhecer melhor. De tudo o que surgiu referente a música no ambiente evangélico nos últimos cinco anos, a Palavrantiga é, na minha opinião, o que há de melhor e o que mais se destacou no cenário.

Quando digo que quem não ouviu precisa conhecer melhor, me refiro ao fato da banda ter conscientemente abandonado o rótulo de uma banda cristã/gospel, preferindo ser tratada como uma banda de rock brasileira, que apesar da influência inglesa, traz também no seu som arranjos e uma proposta musical bem “tupiniquim”. Mais do que isso, o vocalista e principal compositor da banda, o professor Marcos Almeida, atualiza frequentemente seu blog “Nossa Brasilidade” com textos e reflexões acerca de poesia, cultura, identidade e espiritualidade. É na categoria “Espiritualidade na MPB” que Marcos busca dirimir o fosso existente entre o chamado sagrado e o profano; o secular e o religioso, fazendo análises de letras e encontrando espiritualidade onde as mentes religiosas mais fechadas só encontrariam demônios. Identifico-me e muito com o pensamento da Palavrantiga. Como diria uma das letras da banda “[...] me apontaram as cercas e os muros, eu quis o caminho [...] vou subvertendo o mundo amando a esperança que salta os muros e brinca arteira com tua criança, a fé tá na vida”.

Obviamente, todo esse pensamento se reflete nas canções da banda. As letras buscam resgatar e refletir acerca da relação entre o artista cristão e a arte em geral. Isso sem se esquecer das questões que envolvem Deus, o sagrado e o reino. Proposital ou não, até os dois CD’s têm títulos que parecem se complementarem, afinal “esperar é caminhar sobre o mesmo chão”.

Entre as minhas músicas preferidas da banda está a canção ‘Rookmaaker’. Não só minha, mas também de muitas pessoas que conheço. No entanto, várias dessas pessoas já me confidenciaram que ouvem, cantam e curtem a música sem entender quase nada do que ela diz! Eu fiquei abismado com isso. Lembro-me de umas delas dizendo que “o final é o melhor, porque Deus é a vida!”. E de fato é, mas como desprezar todo o restante de poesia, cultura e inteligência presente na canção? Isso é triste ao extremo. Existem pessoas que não se preocupam nem em pesquisar o que e sobre o que estão cantando. Confesso que não conhecia nada sobre Hans Rookmaaker antes de ouvir a música, mas fui procurar saber mais e gostei muito do que li. É pensando em pessoas que cantam e curtem sem entender que escrevo abaixo.

Eu leio Rookmaaker

Henderik Roelof “Hans” Rookmaaker foi um escritor holandês, professor de teoria da arte, história da arte, música, filosofia e religião que se converteu ao cristianismo. Escreveu a respeito da ambiguidade sobre a arte entre os cristãos e da ambiguidade sobre a fé entre os artistas. Costumava dizer que deveríamos questionar toda e qualquer obra artística com as seguintes perguntas: “Ela é boa tecnicamente?”, “Tem integridade?”, “É verdadeira?”. Não, meus queridos, Rookmaaker não enxergava uma divisão entre arte cristã e arte secular/ mundana como é gritada aos quatro cantos dos guetos evangélicos. Mais do que isso, Rookmaaker falou sobre arte em um cenário pós-guerra, onde ninguém estava preocupado ou tinha sensibilidade suficiente para a arte. Clique aqui para saber mais sobre Rookmaaker e ter acesso a toda sua produção (link em inglês).

Já o filósofo francês Jean Paul Sartre, ateu convicto desde os 12 anos de idade, avaliava que a “existência precede a essência” e isso significa dizer que há uma liberdade responsável que o homem manifesta ao escolher sua própria vida e nada, nem mesmo Deus, pode justificar o homem ou retirá-lo de sua liberdade total e absoluta, ou ainda salvá-lo de si mesmo.

Eu canto Keith Green

A história de Keith Green é conturbada, uma saga que daria um filme muito interessante. Depois de ter experimentado todas as drogas que o mundo de até então oferecia e também o “amor livre” da década de 60 com Beatles, Woodstock, guerras e muitos mais, o judeu Keith Green é “achado por Deus” e desde então começa a trabalhar ao lado de sua esposa em um programa de evangelização de prostitutas, drogados e sem-teto nos subúrbios que recebiam, além do evangelho, atenção e cuidados. Existe no Youtube um documentário completo e legendado com a história de Green. Mas eu queria mesmo é que você parasse 5 minutos para assistir o vídeo abaixo com essa música do cantor. Preste atenção na letra e compare com os sucessos da música gospel de hoje. Reflita sobre a sua vida cristã e depois continue a leitura.

Eu fico com a escola de Rembrandt

Rembrandt van Rijn, holandês, foi um genial pintor e gravador, considerado o mais importante da história holandesa. Além de ter ficado conhecido por seus autorretratos únicos e sinceros, e também com retratos de grupo, foi com as ilustrações de cenas da Bíblia que Rembrandt fez grande fama. Em muitas pinturas bíblicas Rembrandt pintou-se como personagem na multidão, o que, de acordo com John Durham, mostrava que para ele a Bíblia era um tipo de diário, uma conta sobre os momentos de sua própria vida. A “escola de Rembrandt” são os pupilos do pintor, que por sua vez tiveram muitos alunos, pois a técnica de Rembrandt influenciou e continua a influenciar artistas em todo o mundo. Clique aqui para se aprofundar na vida e obra de Rembrandt (link em inglês).

O dadaísmo foi um movimento artístico que possuía como característica principal a ruptura com as formas de arte até então tradicionais. Foi um movimento com forte conteúdo anárquico. O nome “dada” que em francês significa ‘cavalo de madeira´,o que marca marca o non-sense ou falta de sentido que pode ter a linguagem (como na fala de um bebê). Clique aqui para saber mais e ver obras do movimento “dada”.

Esperança para nossa brasilidade

Espero que esses apontamentos tenham servido para que algumas pessoas tenham conhecimento do que estão cantando. É muito bom saber que há esperança para o contexto da arte expressa por cristãos. Na música, a Palavrantiga é um exemplo. Vale a pena acompanhar e curtir o som da banda. Eu continuarei a ouvir, refletir, cantar, tocar e acima de tudo pesquisar e adquirir conhecimento através das canções da Palavrantiga, afinal, “tudo o que eu vi não é tudo que eu preciso aprender”!

Foto de Matheus Soares.


Luciano Bruno no Minha Vida Cristã

4 comentários:

  1. É, realmente eu nunca vi ou ouvi o cidadão da foto aí rsrsrs.
    Deus abençoe.
    Ezequiel Domingues

    http://www.ezequiel-domingues.blogspot.com.br/


    https://pt-br.facebook.com/ezequiel.dominguesdossantos.7

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  2. Muito bom o texto. Mas é de grande importância citar "A cidade dos Homens", que foi um termo utilizado por Santo Agostinho ao fazer a comparação entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens. Ele dizia que ela era uma cidade erguida por amor-próprio e interesses dos homens e queriam estar acima da Cidade de Deus - a erguida pelo Amor e os seus cidadãos estão aqui como peregrinos, mas um dia alcançariam o Reino.
    Deem uma lida a respeito, acrescentaria um pouco mais no conhecimento.

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  3. Que maravilhoso! Simples e objetivo. Obrigada pelo attigo. Tem muuuuita gebte que canta por moda, sem nenhuma referência. Infelizmente! Compartilhando já

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